segunda-feira, 21 de maio de 2012

isso não é sobre a Xuxa

Em 18 de maio se celebra o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Exatamente em 18 de maio eu li um relato repugnante envolvendo um motorista de ônibus da UNIFESP e uma criança da qual ele abusou covardemente, em pleno exercício de sua função. Prefiro não dar detalhes sobre o ocorrido enquanto os fatos não são apurados, mas deixo aqui meu total repúdio por esse homem, que representa tantos outros homens, e por toda essa injustiça social que condena milhões de meninas e meninos à absoluta falta de cuidados. 
Ontem, em rede nacional, horário nobre, a Xuxa revelou que sofreu abuso da infância até a adolescência. É claro que no mesmo momento apareceram todos os especialistas do twitter e do facebook opinando sobre o caso. Que, ah, se ela quisesse lutar contra o abuso sexual, devia ter feito isso antes. Tá em crise e quis chamar a atenção. Outros preferiram analisar psicanaliticamente o comportamento infantilizado da Xuxa. O que todo mundo parece não ter notado, talvez devido à edição sensacionalista do Fantástico, é o quanto o abuso é surpreendentemente cotidiano. Acontece com mais gente do que podemos imaginar. A Xuxa ter ido lá expor seu sofrimento em rede nacional faz dela, sim, uma mulher corajosa. Não importa se é a Xuxa, não importa se é na Vênus Platinada. Aliás, importa, sim, quando pensamos na repercussão que o quadro teve e no tanto de gente que ela possivelmente influenciou a falar sobre o assunto.
Outro aspecto importante do depoimento foi o pedido de atenção àquilo que as crianças nos dizem. Precisamos compreender, inclusive, o que nos diz o silêncio delas... Tão significativo. "Se perguntarem hoje", disse a Xuxa, "por que aconteceram as coisas comigo, eu ainda vou achar que foi minha culpa". E acontece assim com todas as crianças humilhadas. Não há quem consiga viver em paz em meio a tanta culpa internalizada e solidão. É preciso abrir os olhos e ouvidos, prestar atenção nas crianças do bairro, da família, nas crianças que vivem na rua... Isso não é sobre a Xuxa e os seus problemas de relacionamento. Isso é sobre quantos/as adultos/as atormentados por uma infância ruim em cada geração a gente tem o poder de evitar. Isso é sobre quantas crianças invisíveis a gente pode - e deve - perceber e ajudar, todos os dias.