Uma vez eu decidi que deixaria a discussão política fora deste espaço, visto que eu também havia decidido que isso daqui seria um cantinho no qual se sentiriam bem todos os "istas" possíveis. Mas, quer saber? Vou expor minha opinião, mesmo, oras. E se o tom for panfletário, paciência. Não dá para se calar diante de tanta barbárie nas eleições. Tanta mentira, gente azeda, tanto pacto com o diabo, tanto acordozinho e maracutaia, troca de favores suja, apadrinhamento, patrocínio e parceria com entidades que sempre segregaram o pobre.
É com pesar que concluímos: o segundo turno se converteu num debatezinho de "meu passado e meus amigos são menos podres que os seus e eu sou mais temente a Deus" apenas porque ambos os candidatos estão defendendo uma mesma palhaçada. E outra: estão ambos atados. Serão meros funcionários sei lá de onde, deve ser do Banco Mundial.
Mas é preciso que analisemos com muito cuidado o quadro que se apresenta. Gente, não vamos desistir de assistir debate e horário eleitoral, beleza? É importante que a gente assista. Cês tão ligados que a tática é deixar a discussão cada vez mais vazia e tergiversadora, a fim de que o povo desista perpetuamente da política e os urubus a dominem, né?
Bem, hoje, especialmente, qual não foi minha vontade de vomitar quando ouvi, na propaganda do Zé, que a paz no campo vai se estabelecer sem os bonés do MST. Serra chegando ao poder (creio que não chegará, puta merda!), anotem: a paz (para o grande fazendeiro, naturalmente) virá via cassetete. É o jeito Serra de resolver as pendengas com o povão. Sempre foi.
Já o jeito Lula de resolver as pendengas com o povão é de natureza distinta: na base do "se contenta com isso aí". O governo Lula foi histórico, porque barrou de maneira fenomenal os movimentos sociais, sem que isso fosse percebido. Barrou os militantes mais pobres com o bolsa-família, barrou os dirigentes dos movimentos cedendo cargos no governo. E assim foi calando a boca do povo que gritava JUSTIÇA! E assim foi, também, tirando muita gente da miséria absoluta, por que não ressaltar... O Lula jamais foi ou será visto como inimigo do povo. Ele foi sensacional por isso: deu uma rasteira histórica no brasileiro pobre e, ainda assim, saiu como herói. Muita coisa ruim do governo FHC continuou existindo no seu governo. O investimento na Educação continuou ínfimo. Só que Lula coloriu o quadro, por exemplo, com a manobra do PROUNI, jeitinho malandro de isentar o Estado da responsabilidade pela Educação e de mandar dinheiro público para entidades particulares que são verdadeiras "fábricas de diploma". Tudo a fim de atender demandas internacionais que nenhum compromisso têm com a qualidade do ensino...
Não digo que o presidente o fez por ser um canalha corrupto; nunca tive a pretensão de julgar ninguém. Aliás, acredito que o Lula seja um homem honrado. Eu o admiro. O que eu posso concluir é que ele fez o que achou que dava para fazer, agradando todas as partes. E nós sabemos, né, que para agradar o rico empresário, o latifundiário, o banqueiro, é preciso manter os pobres em seus devidos lugares. Em uma frase, digamos que a corda continua arrebentando do lado mais fraco, só que, com o lulismo, o lado mais fraco desistiu de puxar.
E mais: o Lula fez o povo acreditar que a estabilidade econômica do Brasil, atualmente, não permite crise. Uma pinoia!
Ninguém precisa ser expert em economia para fazer uma mínima análise da situação mundial: a Europa está entrando numa crise inevitável, e a suposta estabilidade do Brasil depende da economia de lá. Simples. Se a coisa fica feia no Velho Continente, por aqui a coisa fica caótica. O Brasil vai mandar dinheiro para a Europa logo que ela gritar "socorro!", e aí a crise aparece pra gente. Lula não mais estará no poder: sua imagem de grande chefe estará preservada.
Eu tenho uma amiga catalã, a Alba, que me diz que a crise na Espanha é uma "crise de ricos". Que os danos na vida concreta do pobre não são gritantes. Mas eu aviso: a crise daqui vai recair sobre o povão de forma dramática. Sei lá, velho, eu queria muito morder minha língua e estar errada, mas eu penso que vem por aí uma onda de desemprego e inflação daquelas... Deixo claro: não depende de quem ganhe essa merda de eleição. O Brasil caminha rumo a um precipício.
Passado meu momento economicista, creio que seja importante, neste segundo turno, ressaltar um aspecto: as relações com os países da América Latina. Com Serra: retrocesso. Sem conversa. No way. E outra: a possível vitória do Serra representa também a vitória de um fundamentalismo religioso carregado de maldade. E tem outras mil "outras", mas eu estou com sono. Gente, na boa: o Serra é pior.
Estou cansada, bem cansada... ainda estou decidindo se vou colocar minhas convicções no bolso e dar meu voto para a Dilma, a fim de evitar este mal maior que o PSDB representa... o partido tem um histórico de "militância" permeado por um preconceito social e uma ojeriza ao pobre que chaga a me dar contade de chorar...
Que o Brasil se ilumine e que a gente se livre do medo de gritar por justiça. Às urnas (que representam apenas uma etapa), meus amigos, e depois às ruas...