domingo, 17 de outubro de 2010

sobre o possível gerente da Nação

Uma vez eu decidi que deixaria a discussão política fora deste espaço, visto que eu também havia decidido que isso daqui seria um cantinho no qual se sentiriam bem todos os "istas" possíveis. Mas, quer saber? Vou expor minha opinião, mesmo, oras. E se o tom for panfletário, paciência. Não dá para se calar diante de tanta barbárie nas eleições. Tanta mentira, gente azeda, tanto pacto com o diabo, tanto acordozinho e maracutaia, troca de favores suja, apadrinhamento, patrocínio e parceria com entidades que sempre segregaram o pobre.
É com pesar que concluímos: o segundo turno se converteu num debatezinho de "meu passado e meus amigos são menos podres que os seus e eu sou mais temente a Deus" apenas porque ambos os candidatos estão defendendo uma mesma palhaçada. E outra: estão ambos atados. Serão meros funcionários sei lá de onde, deve ser do Banco Mundial.
Mas é preciso que analisemos com muito cuidado o quadro que se apresenta. Gente, não vamos desistir de assistir debate e horário eleitoral, beleza? É importante que a gente assista. Cês tão ligados que a tática é deixar a discussão cada vez mais vazia e tergiversadora, a fim de que o povo desista perpetuamente da política e os urubus a dominem, né?
Bem, hoje, especialmente, qual não foi minha vontade de vomitar quando ouvi, na propaganda do Zé, que a paz no campo vai se estabelecer sem os bonés do MST. Serra chegando ao poder (creio que não chegará, puta merda!), anotem: a paz (para o grande fazendeiro, naturalmente) virá via cassetete. É o jeito Serra de resolver as pendengas com o povão. Sempre foi.
Já o jeito Lula de resolver as pendengas com o povão é de natureza distinta: na base do "se contenta com isso aí". O governo Lula foi histórico, porque barrou de maneira fenomenal os movimentos sociais, sem que isso fosse percebido. Barrou os militantes mais pobres com o bolsa-família, barrou os dirigentes dos movimentos cedendo cargos no governo. E assim foi calando a boca do povo que gritava JUSTIÇA! E assim foi, também, tirando muita gente da miséria absoluta, por que não ressaltar... O Lula jamais foi ou será visto como inimigo do povo. Ele foi sensacional por isso: deu uma rasteira histórica no brasileiro pobre e, ainda assim, saiu como herói. Muita coisa ruim do governo FHC continuou existindo no seu governo. O investimento na Educação continuou ínfimo. Só que Lula coloriu o quadro, por exemplo, com a manobra do PROUNI, jeitinho malandro de isentar o Estado da responsabilidade pela Educação e de mandar dinheiro público para entidades particulares que são verdadeiras "fábricas de diploma". Tudo a fim de atender demandas internacionais que nenhum compromisso têm com a qualidade do ensino...
Não digo que o presidente o fez por ser um canalha corrupto; nunca tive a pretensão de julgar ninguém. Aliás, acredito que o Lula seja um homem honrado. Eu o admiro. O que eu posso concluir é que ele fez o que achou que dava para fazer, agradando todas as partes. E nós sabemos, né, que para agradar o rico empresário, o latifundiário, o banqueiro, é preciso manter os pobres em seus devidos lugares. Em uma frase, digamos que a corda continua arrebentando do lado mais fraco, só que, com o lulismo, o lado mais fraco desistiu de puxar.
E mais: o Lula fez o povo acreditar que a estabilidade econômica do Brasil, atualmente, não permite crise. Uma pinoia!
Ninguém precisa ser expert em economia para fazer uma mínima análise da situação mundial: a Europa está entrando numa crise inevitável, e a suposta estabilidade do Brasil depende da economia de lá. Simples. Se a coisa fica feia no Velho Continente, por aqui a coisa fica caótica. O Brasil vai mandar dinheiro para a Europa logo que ela gritar "socorro!", e aí a crise aparece pra gente. Lula não mais estará no poder: sua imagem de grande chefe estará preservada.
Eu tenho uma amiga catalã, a Alba, que me diz que a crise na Espanha é uma "crise de ricos". Que os danos na vida concreta do pobre não são gritantes. Mas eu aviso: a crise daqui vai recair sobre o povão de forma dramática. Sei lá, velho, eu queria muito morder minha língua e estar errada, mas eu penso que vem por aí uma onda de desemprego e inflação daquelas... Deixo claro: não depende de quem ganhe essa merda de eleição. O Brasil caminha rumo a um precipício.
Passado meu momento economicista, creio que seja importante, neste segundo turno, ressaltar um aspecto: as relações com os países da América Latina. Com Serra: retrocesso. Sem conversa. No way. E outra: a possível vitória do Serra representa também a vitória de um fundamentalismo religioso carregado de maldade. E tem outras mil "outras", mas eu estou com sono. Gente, na boa: o Serra é pior.

Estou cansada, bem cansada... ainda estou decidindo se vou colocar minhas convicções no bolso e dar meu voto para a Dilma, a fim de evitar este mal maior que o PSDB representa... o partido tem um histórico de "militância" permeado por um preconceito social e uma ojeriza ao pobre que chaga a me dar contade de chorar...

Que o Brasil se ilumine e que a gente se livre do medo de gritar por justiça. Às urnas (que representam apenas uma etapa), meus amigos, e depois às ruas...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

que fique claro

As qualidades, quero dizer, aquilo que as pessoas aparentemente têm de "bom" representam, numa perspectiva otimista, mais ou menos um sexto das razões do meu afeto pela Humanidade.

O meu amor decorre muito mais da fragilidade que eu sinto no outro, e daquilo que me atormenta.

sábado, 9 de outubro de 2010

política e religião se discutem, sim, mas não simultaneamente



Eu acredito em Deus. Ainda que não pareça, já que só entro em igreja uma vez por ano, geralmente para missas de sétimo dia. Enfim, acredito, também, que Deus não acredita em política. Não tem por que acreditar. Política é coisa ruim. É subordinar os irmãos, é deixar milhões à margem de tudo para que uma minoria continue ditando as regras. A política tem sido, por excelência, amiga da enganação. Pelo que sei, tudo começou com os sofistas, aqueles malandros. Persuadir para vencer, nenhum compromisso com a verdade. E pegou.

Uma vez exposta minha opinião, me digam se essa verdadeira guerra santa que está sendo travada entre Serra e Dilma neste segundo turno não é uma grande piada de mau gosto! É um tal de "graças a Deus" pra cá, "valores sagrados" pra lá. CANDIDATOS, NOS POUPEM.
Se os dois se preocupassem apenas em vender suas mentiras entusiastas na tevê, já estava de bom tamanho. Se continuassem naquelas de "vote em mim, sua vida vai melhorar", beleza. Promessas estapafúrdias, que nós sabemos impraticáveis, mas audíveis. Agora, colocar Deus e os valores cristãos na jogada é baixaria. Misturar uma questão de saúde pública a tais valores é hipocrisia. Quem vai dizer que Portugal não é mais tradicionalmente católico do que o Brasil? E o país já legalizou o aborto. E outra, se for para misturar, misturemos: quem vai dizer que garantir uma lei que criminaliza a homofobia vai contra os ensinamentos do JC? É certo atirar pedras?
A lei não busca fazer com que todos aceitem as orientações alheias, é apenas uma maneira de fazer com que as pessoas se respeitem. Num mundo ideal, não seria necessária uma lei para isso, mas nós não vivemos num mundo ideal. A igreja, que deveria incentivar o "fazer o bem sem olhar a quem", desempenha muito bem seu papel de aparelho ideológico do estado, alimentando o repúdio ao diferente.
Também é preciso que esteja claro que a descriminalização do aborto não funcionaria como incentivo da prática. Isso é evidente! Seria só um jeito humano de tratar as mulheres pobres que morrem fazendo abortos em clínicas clandestinas. Porque as mulheres ricas também fazem, mas com todos os cuidados que podem pagar... é por isso que a questão é deixada de lado pelo governo.
Que os candidatos desaprovem o aborto, vá lá, eu também não sou favorável. Aliás, ninguém é. Que merda, isso! Ninguém está dizendo "faça aborto, é bacana". Mas a partir do momento em que eu me proponho a ser chefe de Estado, devo estar ciente das minhas responsabilidades para com o povo. E isso não diz respeito às minhas crenças pessoais.

Olha, no primeiro turno eu votei em um cristão de 80 anos e quem diria: foi ele quem apresentou as propostas mais coerentes, ainda que muitas delas batessem de frente com aquilo que determina a sua fé religiosa. Ele soube separar. Em nenhum momento agradeceu a Deus por estar num debate. Coisa que os outros fizeram, e muito. Parabéns e obrigada, Plínio de Arruda Sampaio. Se Deus acreditasse em política, certeza que Ele votava no senhor.

Este segundo turno está caótico. Eu realmente gostaria que nenhum dos dois candidatos fosse presidente da República. Por enquanto, enfim, seguimos metralhando o mais nocivo.