quarta-feira, 15 de setembro de 2010

olhai os muros da rua - pixar é com X

Colou um figurão na UNIFESP para palestrar sobre o fim das vanguardas e os novos caminhos para a arte. "Bacana", pensei, "bom eu dar uma chegada lá, já que não manjo nada dessas paradas aí". Eu estava ajudando na organização, para falar a verdade. Até levei biscoitos para o convidado, um senhor muito simpático.
E começou.
E eu fui até gostando, muito embora ao mesmo tempo me sentisse meio boboca por ter acreditado que o conhecimento de alguns representantes do cubismo, dadaísmo ou abstracionismo, sei lá, já fazia de mim uma pessoa entendidinha. "Caramba, eu não manjo nada, mesmo", pensei.
Hora das perguntas. Ninguém levanta a mão. Estão todos pensando como eu: "qualquer pergunta que eu fizer vai ser rasa, ingênua, sem nenhum embasamento teórico sobre o tema".
E eu só conseguia pensar numa coisa. E martelava, martelava.
Eis que o rapaz de chapéu de palha arranca as palavras de dentro do meu peito, sei lá como ele fez isso, toma fôlego e arrisca: "Professor, e o graffiti, pode ser considerado um movimento de vanguarda?"
O professor silencia por alguns segundos. "Bem", ele diz, "tem que ver..."
E o figurão disserta sobre umas tantas outras coisas que a gente desconhece, cita uns outros tantos pintores, e, mais tarde, chega à seguinte conclusão: "depredação do patrimônio público não pode ser considerada produção artística".
Doutor, e todo aquele papo anterior de arte como estetização da vida? Quer dizer que eu entendi tudo errado?
O graffiti de Nona Iorque ou o pixo de São Paulo representam uma determinada visão de mundo: uma visão carregada de revolta. Revolta pelas condições miseráveis de existência a que alguns devem submeter-se para que outros continuem ditando as regras. A pixação é o meio pelo qual o menino da periferia se expressa, e reflete o que está errado na sociedade, a doença, a podridão. É por isso que gera tanto desconforto. Apenas porque é verdadeira demais.

Agora, pensando direitinho... Se é considerada arte, quando na rua... pouco importa. O fato é que a partir do momento que entra na galeria, deixa de ser pixação, deixa de ser graffiti. Porque perde todo o seu caráter transgressor, caráter de resistência. Vira outra coisa... sei lá o quê que vira! Deve ser vanguarda.

9 comentários:

Calebe disse...

Daí, com seu texto, eu me lembrei de um cara falando sobre Arte. Quem era mesmo? Não sei se Gullar ou se algum outro figurão, mas o cara dizia: "Arte não pode ser isso, funcionar como tal apenas dentro de uma galeria. Não pode ser, Arte é Arte na rua ou em qualquer lugar."

victor pompêo disse...

Vira mais um movimento de oposição assimilado pelo "sistema". Empalado e guardado na estante, pra todo mundo passar, fitar e concluir: "que bonito!", voltando à rotina como se nada tivesse acontecido.

Ana Carolina disse...

amigos, estejam certos: "arte na rua dura o tempo necessário"

=)

Gabri disse...

odeie seu ódio

Karine disse...

Esse seu texto, o grafitti e o figurão especialista em Artes me lembra aquele trecho da música Alagados, do Paralamas, em que fala "A arte de viver da fé, só não se sabe, fé em que!"

Vai ver o grafitti é isso...

Parabéns pelo texto, Carola!

Rodrigo Caetano Pinto disse...

é tão bom saber que as pessoas se revoltam, para mim o grafite é isso: a exposição da revolta.

Rodrigo Caetano Pinto disse...

Adorei o visual novo, ficou bem delicado. A foto nova também, está com cara de criança travessa!

victor pompêo disse...

Você faz UNIFESP? Em qual campus?

victor pompêo disse...

haha não, sou da UNICAMP. Mas sou de Guarulhos =)