segunda-feira, 27 de setembro de 2010

mais-valia em um parágrafo

Eu, Carolina, pedante que sou, coloco aqui no blog um texto todo cheio dos conceitos e pressuponho que todos os visitantes deste espaço já tiveram a oportunidade de se deparar com eles em suas vidas. Desculpem-me!

Vou (tentar) explicar a mais-valia. Estudiosos marxistas: saiam daqui!

Então, vamos lá. Em primeiro lugar, para que haja capitalismo, deve-se existir um pretenso trabalhador "livre". Livre para vender sua força de trabalho, mas enfim, livre. Há escravidão na sociedade capitalista, por supuesto, mas a forma de trabalho central é a assalariada. Sem ela, é impossível haver a mais-valia.
Pois bem. Uma vez estando isso claro, é preciso que também esteja claro que o valor de uma mercadoria não está relacionado à sua utilidade: está relacionado ao tempo de trabalho socialmente necessário para sua fabricação. É difícil que a gente aceite isso, porque a mercadoria reflete as características do seu trabalho como se não fossem do seu trabalho, como se fossem dela própria. É o que Marx chamou "fetiche da mercadoria", mas não vou entrar nessa parte, que não domino. Bem, então. O valor de uso é desconsiderado na sociedade capitalista. O que importa é o valor de troca. Por que estou dizendo isso? Ah, sim. Esse valor de troca reflete certas relações sociais de exploração: existe o cara que é o dono dos meios de produção e existe o cara que vende sua força de trabalho. Não vamos entrar num discurso panfletário sobre o que seria o justo, ok? Isso daqui é uma análise, apenas. Foi isso o que Marx fez: partindo de pressupostos burgueses e das explicações superficiais da economia clássica, entrou nos subterrâneos e elaborou sua análise crítica e, digamos, anti-capitalista.
Aí, então. A mais-valia, né.
A mais-valia não é o lucro (ainda). É o tempo de trabalho socialmente explorado. O lucro é a realização da mais valia, ou seja, a transformação da mais-valia em dinheiro. Para ilustrar de maneira bem tosca, pensemos num sujeito que trabalha 10h por dia e tem a ilusão de que recebe pelo seu trabalho. Não recebe, não. Ele recebe por aquilo que produziu em, digamos, 2h. As 8h excedentes são a mais-valia. O patrão vende a mercadoria produzida durante este tempo e compra mais máquinas, o que deixa o empregado mais dependente dele. Este quadrinho é sempre bastante ilustrativo.

Espero ter esclarecido alguma coisa! Perdoem a possível incoerência, levem em conta que eu também sou uma aprendiz. O mais bacana dessa teoria é que ela explica as relações de exploração que se estabelecem até hoje, uma vez que as estruturas do capitalismo permanecem as mesmas... não é fantástico?

sábado, 25 de setembro de 2010

o barbudo já cantou a pedra

"Já vimos como o capital produz a mais-valia e como a mais-valia produz um novo capital. Mas a acumulação do capital pressupõe a mais-valia, como esta pressupõe a produção capitalista, e esta, por sua vez, a concentração nas mãos dos produtores de mercadorias de massas consideráveis de capital ou força de trabalho. Todo esse movimento parece, assim, mover-se num círculo vicioso, de onde não podemos sair a não ser pressupondo, anteriormente à produção capitalista, uma acumulação primitiva que seria não o resultado, mas o ponto de partida do modo de produção capitalista.

[...]

Na história da acumulação primitiva são particularmente importantes as épocas em que grandes massas humanas são repentina e violentamente despojadas de seus meios se subsistência e jogadas ao mercado sob a forma de proletários privados de tudo. Todo o processo repousa sobre a expropriação do produtor rural, do camponês."

MARX, Karl. O Capital. Edição resumida por Julian Borchardt. Tradução de Ronaldo Schmidt. 7ª ed. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1982, p. 171 - 173, grifos meus.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

olhai os muros da rua - pixar é com X

Colou um figurão na UNIFESP para palestrar sobre o fim das vanguardas e os novos caminhos para a arte. "Bacana", pensei, "bom eu dar uma chegada lá, já que não manjo nada dessas paradas aí". Eu estava ajudando na organização, para falar a verdade. Até levei biscoitos para o convidado, um senhor muito simpático.
E começou.
E eu fui até gostando, muito embora ao mesmo tempo me sentisse meio boboca por ter acreditado que o conhecimento de alguns representantes do cubismo, dadaísmo ou abstracionismo, sei lá, já fazia de mim uma pessoa entendidinha. "Caramba, eu não manjo nada, mesmo", pensei.
Hora das perguntas. Ninguém levanta a mão. Estão todos pensando como eu: "qualquer pergunta que eu fizer vai ser rasa, ingênua, sem nenhum embasamento teórico sobre o tema".
E eu só conseguia pensar numa coisa. E martelava, martelava.
Eis que o rapaz de chapéu de palha arranca as palavras de dentro do meu peito, sei lá como ele fez isso, toma fôlego e arrisca: "Professor, e o graffiti, pode ser considerado um movimento de vanguarda?"
O professor silencia por alguns segundos. "Bem", ele diz, "tem que ver..."
E o figurão disserta sobre umas tantas outras coisas que a gente desconhece, cita uns outros tantos pintores, e, mais tarde, chega à seguinte conclusão: "depredação do patrimônio público não pode ser considerada produção artística".
Doutor, e todo aquele papo anterior de arte como estetização da vida? Quer dizer que eu entendi tudo errado?
O graffiti de Nona Iorque ou o pixo de São Paulo representam uma determinada visão de mundo: uma visão carregada de revolta. Revolta pelas condições miseráveis de existência a que alguns devem submeter-se para que outros continuem ditando as regras. A pixação é o meio pelo qual o menino da periferia se expressa, e reflete o que está errado na sociedade, a doença, a podridão. É por isso que gera tanto desconforto. Apenas porque é verdadeira demais.

Agora, pensando direitinho... Se é considerada arte, quando na rua... pouco importa. O fato é que a partir do momento que entra na galeria, deixa de ser pixação, deixa de ser graffiti. Porque perde todo o seu caráter transgressor, caráter de resistência. Vira outra coisa... sei lá o quê que vira! Deve ser vanguarda.