sexta-feira, 19 de março de 2010

para nossa mania pedantesca de classificar

Há um lugar, um pequeno lugar, tão pequeno como uma casinha de vidro na floresta em cima do alfinete, disse a criança. É lá que eu guardei a minha pena da cara de todos.
Esta criança vai deixar de sorrir, disse o Medidor de Crianças.
(...)
Há um lugar, um pequeno lugar tão pequeno como o ovo azul do bicho da seda, disse a criança. É lá que eu guardei o meu amigo.
Esta criança vai deixar de falar, disse o Medidor de Crianças.
(...)
Há um lugar, um pequeno lugar tão pequeno como a pedra de açúcar que a mosca leva para os seus filhinhos partirem e fazerem espelhos, disse a criança. É lá que eu guardei a minha mãe.
Esta criança morreu, disse o Medidor de Crianças.
Há um lugar, um pequeno lugar tão pequeno como a bolha de sumo dentro do gomo da tangerina, disse a criança. É lá que eu me guardei e comi-o e passou para o dentro do dentro do mais pequeno dos buracos do meu coração.
Esta criança acabou, disse o Medidor de Crianças. É preciso fazer outra.

(Maria Velho da Costa, "O lugar comum", Desescrita, 1973)

segunda-feira, 15 de março de 2010

quem busca a paz longe do mar

Hoje fui ao Bom Retiro, me encontrei com o meu amigo Carlos (o Drummond), o senhor Jorge Amado, o querido Victor Hugo - sem traduções, hein! - e fui apresentada ao camarada Vladimir Nabokov. Não sei ao certo se vamos nos dar muito bem.
Também hoje eu recebi um telefonema feliz, coisa rara, que me trouxe uma notícia boa: fui selecionada para um curso de contação de histórias na Biblioteca Hans Christian Andersen, lá no Tatuapé. Bonita biblioteca, sou uma moça muito sortuda!
Sou uma moça muito sortuda e tenho uma amiga espanhola chamada Alba, que veio diretamente da Universidade de Barcelona... para minha casa e para estudar comigo!
Trabalho muito, o dia todo! No fim do mês, não me sobra um troco!
Talvez passe um tempo morando em república... experiência interessante, eu suponho.
Hoje eu disse a um amigo de riso fácil: "vou dar mais espaço às pessoas, criar laços". Ele disse que pode ser uma escolha arriscada, mas eu vou pagar pra ver.

Tenham uma boa vida e plantem uma árvore hoje!

Da amiga de sempre,

Ana Carolina

terça-feira, 2 de março de 2010

keep it up

Há pouco tempo comecei a treinar malabares. Faz muito bem para mim e, dizem, as bolinhas vão me transformar numa pessoa equilibrada, concentrada...
O princípio do Malabarismo se aplica perfeitamente à vida: continue equilibrando. Aconteça o que acontecer, mermão, continue! E se a bolinha cai... Anos de experiência vão fazer com que você aprenda a salvá-la antes dela chegar ao chão. Há que se cultivar muita malandragem e alegria para que seu espetáculo nunca acabe, para que você tenha sempre um truque novo.
Quem conhece a lenda do Malabarista de Notre Dame?
Era uma vez um camarada pobre, pobre pra caramba! Não tinha nada para oferecer à imagem da Virgem Maria, que parecia triste, mesmo com todos os presentes que recebia dos fiéis. O camarada viu entre os presentes alguns artefatos que lhe seriam muito úteis (bolas, botões, argolas), e pôs-se a fazer malabares em frente à estátua. A Virgem sorriu e ofereceu uma rosa ao talentoso artista!

Riu Maria, mãe de Jesus; só não riu Maria, minha mãe. Se eu ficar boa, será que ela se alegra?
O jeito é praticar... E manter as bolinhas no céu.