sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Gracias

Saí de um ano bastante ruim e, veja só, logo veio 2010 com tudo o que eu gosto... muita chuva, Copa do Mundo e eleições. É, gente, eu gosto de eleições.

Este mundo é tão pesado, ainda bem que eu tenho vocês todos segurando a barra comigo. Nunca vou ser suficientemente letrada ao ponto de conseguir verbalizar como é grande o meu afeto!

Felicidade a todos os corações valentes que fazem de mim uma pessoa forte. E que a nossa mente continue inquieta, porque quem faz sentido é soldado!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

para a Maria

Sabe, Maria, qual música estou escutando, agorinha? Aquela que me lembra você: "alone, listless, breakfast table in an otherwise empty room..."

Estive pensando em como posso suprir a falta que ele te faz. Não posso. Mas não chora, Maria, a simplicidade e a doçura dele são maiores do que qualquer coisa, e ficaram espalhadas por cada cantinho da nossa casa. E casa é onde a gente deixa o nosso coração, não é esse sobrado meio triste no qual a gente vive.
Olha, obrigada, viu? Se eu sou uma moça esperta, é só porque a sua tristeza sempre se converteu em sabedoria. É só porque isso se juntou à malandragem e alegria de viver do pai e à inteligência assustadora do Ramon. Sempre estive rodeada por anjos...
Quero te provar que até a culpa nos deixa mais fortes. Ainda que a culpa seja só um mecanismo que a gente mesma criou para fugir da angústia tão grande de aceitar: não tinha jeito de fazê-lo ficar.
Maria, vamos fazer aquele doce de banana? Maria, vai comigo àquela manifestação? A gente ainda tem um mundo inteiro para consertar, precisamos correr. Para com essa conversa de que quer morrer, Maria, por favor. Só morre quem está distraído. Se você ficar pensando muito, já te disse, vai ter que me aguentar por mais cem anos!

Embora eu acorde tarde e não tire o pó dos móveis, eu procuro ser, ainda hoje, o seu presentinho de Natal mais querido... como sempre fui, desde 1990.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Saudação da saudade, por Alice Ruiz

minha saudade
saúda tua ida
mesmo sabendo
que uma vinda
só é possível
noutra vida

aqui, no reino
do escuro
e do silêncio
minha saudade
absurda e muda
procura às cegas
te trazer à luz

ali, onde
nem mesmo você
sabe mais
talvez, enfim
nos espere
o esquecimento

aí, ainda assim
minha saudade
te saúda
e se despede
de mim

Só porque hoje o dia está pesado... descobri um riso que é o dele sem ser dele, e chorei sem molhar os olhos.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

para que eu continue de pé

Eu preciso acreditar que existe um céu diferente para onde vão os animais e as plantas mortas. Eu preciso acreditar que este céu é uma espécie de chácara, bem grande, da qual meu pai é o caseiro. Eu preciso acreditar que lá tem um grande lago, onde meu avô pesca. Eu preciso acreditar que eu só existo para, um dia, encontrar todos por lá. Eu preciso acreditar que não é um padre quem poderá salvar a minha alma que agoniza, mas a grandeza de ajudar quem sofre mais do que eu. Eu preciso acreditar que o poço que abriga a água da minha sede está logo ali, é só caminhar. Eu preciso acreditar que a minha missão é importante. Eu preciso acreditar que nada vai mudar, se eu não me mexer. Eu preciso acreditar que minha existência seria bastante vazia, se eu não tivesse a mente tão perturbada. Eu preciso acreditar que a paz existe, ainda que eu não a conheça. Eu preciso acreditar que tudo o que eu amo não se acabou, e não vai se acabar... nunca.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

sobre tudo aquilo que eu detesto no fim de ano

Ontem eu estava no supermercado e me perdi da minha mãe (hábito cultivado por mim desde 1994). Me perdi porque me distraí com a luz, os enfeites e a música melancólica da grande árvore de Natal. Senti vontade de jogar tudo aquilo no chão, até que parou na minha frente uma menininha que gargalhava e tinha uma luz rara nos olhos. Era eu.

domingo, 17 de outubro de 2010

sobre o possível gerente da Nação

Uma vez eu decidi que deixaria a discussão política fora deste espaço, visto que eu também havia decidido que isso daqui seria um cantinho no qual se sentiriam bem todos os "istas" possíveis. Mas, quer saber? Vou expor minha opinião, mesmo, oras. E se o tom for panfletário, paciência. Não dá para se calar diante de tanta barbárie nas eleições. Tanta mentira, gente azeda, tanto pacto com o diabo, tanto acordozinho e maracutaia, troca de favores suja, apadrinhamento, patrocínio e parceria com entidades que sempre segregaram o pobre.
É com pesar que concluímos: o segundo turno se converteu num debatezinho de "meu passado e meus amigos são menos podres que os seus e eu sou mais temente a Deus" apenas porque ambos os candidatos estão defendendo uma mesma palhaçada. E outra: estão ambos atados. Serão meros funcionários sei lá de onde, deve ser do Banco Mundial.
Mas é preciso que analisemos com muito cuidado o quadro que se apresenta. Gente, não vamos desistir de assistir debate e horário eleitoral, beleza? É importante que a gente assista. Cês tão ligados que a tática é deixar a discussão cada vez mais vazia e tergiversadora, a fim de que o povo desista perpetuamente da política e os urubus a dominem, né?
Bem, hoje, especialmente, qual não foi minha vontade de vomitar quando ouvi, na propaganda do Zé, que a paz no campo vai se estabelecer sem os bonés do MST. Serra chegando ao poder (creio que não chegará, puta merda!), anotem: a paz (para o grande fazendeiro, naturalmente) virá via cassetete. É o jeito Serra de resolver as pendengas com o povão. Sempre foi.
Já o jeito Lula de resolver as pendengas com o povão é de natureza distinta: na base do "se contenta com isso aí". O governo Lula foi histórico, porque barrou de maneira fenomenal os movimentos sociais, sem que isso fosse percebido. Barrou os militantes mais pobres com o bolsa-família, barrou os dirigentes dos movimentos cedendo cargos no governo. E assim foi calando a boca do povo que gritava JUSTIÇA! E assim foi, também, tirando muita gente da miséria absoluta, por que não ressaltar... O Lula jamais foi ou será visto como inimigo do povo. Ele foi sensacional por isso: deu uma rasteira histórica no brasileiro pobre e, ainda assim, saiu como herói. Muita coisa ruim do governo FHC continuou existindo no seu governo. O investimento na Educação continuou ínfimo. Só que Lula coloriu o quadro, por exemplo, com a manobra do PROUNI, jeitinho malandro de isentar o Estado da responsabilidade pela Educação e de mandar dinheiro público para entidades particulares que são verdadeiras "fábricas de diploma". Tudo a fim de atender demandas internacionais que nenhum compromisso têm com a qualidade do ensino...
Não digo que o presidente o fez por ser um canalha corrupto; nunca tive a pretensão de julgar ninguém. Aliás, acredito que o Lula seja um homem honrado. Eu o admiro. O que eu posso concluir é que ele fez o que achou que dava para fazer, agradando todas as partes. E nós sabemos, né, que para agradar o rico empresário, o latifundiário, o banqueiro, é preciso manter os pobres em seus devidos lugares. Em uma frase, digamos que a corda continua arrebentando do lado mais fraco, só que, com o lulismo, o lado mais fraco desistiu de puxar.
E mais: o Lula fez o povo acreditar que a estabilidade econômica do Brasil, atualmente, não permite crise. Uma pinoia!
Ninguém precisa ser expert em economia para fazer uma mínima análise da situação mundial: a Europa está entrando numa crise inevitável, e a suposta estabilidade do Brasil depende da economia de lá. Simples. Se a coisa fica feia no Velho Continente, por aqui a coisa fica caótica. O Brasil vai mandar dinheiro para a Europa logo que ela gritar "socorro!", e aí a crise aparece pra gente. Lula não mais estará no poder: sua imagem de grande chefe estará preservada.
Eu tenho uma amiga catalã, a Alba, que me diz que a crise na Espanha é uma "crise de ricos". Que os danos na vida concreta do pobre não são gritantes. Mas eu aviso: a crise daqui vai recair sobre o povão de forma dramática. Sei lá, velho, eu queria muito morder minha língua e estar errada, mas eu penso que vem por aí uma onda de desemprego e inflação daquelas... Deixo claro: não depende de quem ganhe essa merda de eleição. O Brasil caminha rumo a um precipício.
Passado meu momento economicista, creio que seja importante, neste segundo turno, ressaltar um aspecto: as relações com os países da América Latina. Com Serra: retrocesso. Sem conversa. No way. E outra: a possível vitória do Serra representa também a vitória de um fundamentalismo religioso carregado de maldade. E tem outras mil "outras", mas eu estou com sono. Gente, na boa: o Serra é pior.

Estou cansada, bem cansada... ainda estou decidindo se vou colocar minhas convicções no bolso e dar meu voto para a Dilma, a fim de evitar este mal maior que o PSDB representa... o partido tem um histórico de "militância" permeado por um preconceito social e uma ojeriza ao pobre que chaga a me dar contade de chorar...

Que o Brasil se ilumine e que a gente se livre do medo de gritar por justiça. Às urnas (que representam apenas uma etapa), meus amigos, e depois às ruas...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

que fique claro

As qualidades, quero dizer, aquilo que as pessoas aparentemente têm de "bom" representam, numa perspectiva otimista, mais ou menos um sexto das razões do meu afeto pela Humanidade.

O meu amor decorre muito mais da fragilidade que eu sinto no outro, e daquilo que me atormenta.

sábado, 9 de outubro de 2010

política e religião se discutem, sim, mas não simultaneamente



Eu acredito em Deus. Ainda que não pareça, já que só entro em igreja uma vez por ano, geralmente para missas de sétimo dia. Enfim, acredito, também, que Deus não acredita em política. Não tem por que acreditar. Política é coisa ruim. É subordinar os irmãos, é deixar milhões à margem de tudo para que uma minoria continue ditando as regras. A política tem sido, por excelência, amiga da enganação. Pelo que sei, tudo começou com os sofistas, aqueles malandros. Persuadir para vencer, nenhum compromisso com a verdade. E pegou.

Uma vez exposta minha opinião, me digam se essa verdadeira guerra santa que está sendo travada entre Serra e Dilma neste segundo turno não é uma grande piada de mau gosto! É um tal de "graças a Deus" pra cá, "valores sagrados" pra lá. CANDIDATOS, NOS POUPEM.
Se os dois se preocupassem apenas em vender suas mentiras entusiastas na tevê, já estava de bom tamanho. Se continuassem naquelas de "vote em mim, sua vida vai melhorar", beleza. Promessas estapafúrdias, que nós sabemos impraticáveis, mas audíveis. Agora, colocar Deus e os valores cristãos na jogada é baixaria. Misturar uma questão de saúde pública a tais valores é hipocrisia. Quem vai dizer que Portugal não é mais tradicionalmente católico do que o Brasil? E o país já legalizou o aborto. E outra, se for para misturar, misturemos: quem vai dizer que garantir uma lei que criminaliza a homofobia vai contra os ensinamentos do JC? É certo atirar pedras?
A lei não busca fazer com que todos aceitem as orientações alheias, é apenas uma maneira de fazer com que as pessoas se respeitem. Num mundo ideal, não seria necessária uma lei para isso, mas nós não vivemos num mundo ideal. A igreja, que deveria incentivar o "fazer o bem sem olhar a quem", desempenha muito bem seu papel de aparelho ideológico do estado, alimentando o repúdio ao diferente.
Também é preciso que esteja claro que a descriminalização do aborto não funcionaria como incentivo da prática. Isso é evidente! Seria só um jeito humano de tratar as mulheres pobres que morrem fazendo abortos em clínicas clandestinas. Porque as mulheres ricas também fazem, mas com todos os cuidados que podem pagar... é por isso que a questão é deixada de lado pelo governo.
Que os candidatos desaprovem o aborto, vá lá, eu também não sou favorável. Aliás, ninguém é. Que merda, isso! Ninguém está dizendo "faça aborto, é bacana". Mas a partir do momento em que eu me proponho a ser chefe de Estado, devo estar ciente das minhas responsabilidades para com o povo. E isso não diz respeito às minhas crenças pessoais.

Olha, no primeiro turno eu votei em um cristão de 80 anos e quem diria: foi ele quem apresentou as propostas mais coerentes, ainda que muitas delas batessem de frente com aquilo que determina a sua fé religiosa. Ele soube separar. Em nenhum momento agradeceu a Deus por estar num debate. Coisa que os outros fizeram, e muito. Parabéns e obrigada, Plínio de Arruda Sampaio. Se Deus acreditasse em política, certeza que Ele votava no senhor.

Este segundo turno está caótico. Eu realmente gostaria que nenhum dos dois candidatos fosse presidente da República. Por enquanto, enfim, seguimos metralhando o mais nocivo.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

mais-valia em um parágrafo

Eu, Carolina, pedante que sou, coloco aqui no blog um texto todo cheio dos conceitos e pressuponho que todos os visitantes deste espaço já tiveram a oportunidade de se deparar com eles em suas vidas. Desculpem-me!

Vou (tentar) explicar a mais-valia. Estudiosos marxistas: saiam daqui!

Então, vamos lá. Em primeiro lugar, para que haja capitalismo, deve-se existir um pretenso trabalhador "livre". Livre para vender sua força de trabalho, mas enfim, livre. Há escravidão na sociedade capitalista, por supuesto, mas a forma de trabalho central é a assalariada. Sem ela, é impossível haver a mais-valia.
Pois bem. Uma vez estando isso claro, é preciso que também esteja claro que o valor de uma mercadoria não está relacionado à sua utilidade: está relacionado ao tempo de trabalho socialmente necessário para sua fabricação. É difícil que a gente aceite isso, porque a mercadoria reflete as características do seu trabalho como se não fossem do seu trabalho, como se fossem dela própria. É o que Marx chamou "fetiche da mercadoria", mas não vou entrar nessa parte, que não domino. Bem, então. O valor de uso é desconsiderado na sociedade capitalista. O que importa é o valor de troca. Por que estou dizendo isso? Ah, sim. Esse valor de troca reflete certas relações sociais de exploração: existe o cara que é o dono dos meios de produção e existe o cara que vende sua força de trabalho. Não vamos entrar num discurso panfletário sobre o que seria o justo, ok? Isso daqui é uma análise, apenas. Foi isso o que Marx fez: partindo de pressupostos burgueses e das explicações superficiais da economia clássica, entrou nos subterrâneos e elaborou sua análise crítica e, digamos, anti-capitalista.
Aí, então. A mais-valia, né.
A mais-valia não é o lucro (ainda). É o tempo de trabalho socialmente explorado. O lucro é a realização da mais valia, ou seja, a transformação da mais-valia em dinheiro. Para ilustrar de maneira bem tosca, pensemos num sujeito que trabalha 10h por dia e tem a ilusão de que recebe pelo seu trabalho. Não recebe, não. Ele recebe por aquilo que produziu em, digamos, 2h. As 8h excedentes são a mais-valia. O patrão vende a mercadoria produzida durante este tempo e compra mais máquinas, o que deixa o empregado mais dependente dele. Este quadrinho é sempre bastante ilustrativo.

Espero ter esclarecido alguma coisa! Perdoem a possível incoerência, levem em conta que eu também sou uma aprendiz. O mais bacana dessa teoria é que ela explica as relações de exploração que se estabelecem até hoje, uma vez que as estruturas do capitalismo permanecem as mesmas... não é fantástico?

sábado, 25 de setembro de 2010

o barbudo já cantou a pedra

"Já vimos como o capital produz a mais-valia e como a mais-valia produz um novo capital. Mas a acumulação do capital pressupõe a mais-valia, como esta pressupõe a produção capitalista, e esta, por sua vez, a concentração nas mãos dos produtores de mercadorias de massas consideráveis de capital ou força de trabalho. Todo esse movimento parece, assim, mover-se num círculo vicioso, de onde não podemos sair a não ser pressupondo, anteriormente à produção capitalista, uma acumulação primitiva que seria não o resultado, mas o ponto de partida do modo de produção capitalista.

[...]

Na história da acumulação primitiva são particularmente importantes as épocas em que grandes massas humanas são repentina e violentamente despojadas de seus meios se subsistência e jogadas ao mercado sob a forma de proletários privados de tudo. Todo o processo repousa sobre a expropriação do produtor rural, do camponês."

MARX, Karl. O Capital. Edição resumida por Julian Borchardt. Tradução de Ronaldo Schmidt. 7ª ed. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1982, p. 171 - 173, grifos meus.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

olhai os muros da rua - pixar é com X

Colou um figurão na UNIFESP para palestrar sobre o fim das vanguardas e os novos caminhos para a arte. "Bacana", pensei, "bom eu dar uma chegada lá, já que não manjo nada dessas paradas aí". Eu estava ajudando na organização, para falar a verdade. Até levei biscoitos para o convidado, um senhor muito simpático.
E começou.
E eu fui até gostando, muito embora ao mesmo tempo me sentisse meio boboca por ter acreditado que o conhecimento de alguns representantes do cubismo, dadaísmo ou abstracionismo, sei lá, já fazia de mim uma pessoa entendidinha. "Caramba, eu não manjo nada, mesmo", pensei.
Hora das perguntas. Ninguém levanta a mão. Estão todos pensando como eu: "qualquer pergunta que eu fizer vai ser rasa, ingênua, sem nenhum embasamento teórico sobre o tema".
E eu só conseguia pensar numa coisa. E martelava, martelava.
Eis que o rapaz de chapéu de palha arranca as palavras de dentro do meu peito, sei lá como ele fez isso, toma fôlego e arrisca: "Professor, e o graffiti, pode ser considerado um movimento de vanguarda?"
O professor silencia por alguns segundos. "Bem", ele diz, "tem que ver..."
E o figurão disserta sobre umas tantas outras coisas que a gente desconhece, cita uns outros tantos pintores, e, mais tarde, chega à seguinte conclusão: "depredação do patrimônio público não pode ser considerada produção artística".
Doutor, e todo aquele papo anterior de arte como estetização da vida? Quer dizer que eu entendi tudo errado?
O graffiti de Nona Iorque ou o pixo de São Paulo representam uma determinada visão de mundo: uma visão carregada de revolta. Revolta pelas condições miseráveis de existência a que alguns devem submeter-se para que outros continuem ditando as regras. A pixação é o meio pelo qual o menino da periferia se expressa, e reflete o que está errado na sociedade, a doença, a podridão. É por isso que gera tanto desconforto. Apenas porque é verdadeira demais.

Agora, pensando direitinho... Se é considerada arte, quando na rua... pouco importa. O fato é que a partir do momento que entra na galeria, deixa de ser pixação, deixa de ser graffiti. Porque perde todo o seu caráter transgressor, caráter de resistência. Vira outra coisa... sei lá o quê que vira! Deve ser vanguarda.

domingo, 29 de agosto de 2010

eleições 2010

Permanece embrutecido aquele que opõe a obra das mãos operárias e do povo que nos alimenta às nuvens da retórica.

RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante - cinco lições sobre a emancipação intelectual. Tradução de Lílian do Valle. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, p. 61.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

para o Mitsu, após um ano

Há onze meses e um dia, meu pai morreu. Durante algum tempo eu fiquei inerte, sem reação, sem chorar, como se não acreditasse. Sonhei com meu pai em absolutamente todos os dias que se passaram desde então, o que me faz acordar um pouco triste. Mas este texto deve ser alegre, e fácil de entender.

Nos dias de maior desespero e desamparo, eu não deixei que ninguém me visse sofrer. Eu fechei os olhos e pensei: "pai, volta" (talvez eu ficasse, mesmo, tentando elaborar um meio de fazê-lo voltar). Acho que acontece mais ou menos assim com todas as meninas que perdem seus pais um pouco cedo demais.

O fato é que, aos poucos, a angústia vai dando lugar a uma estranha e doce calma, como a que eu sentia quando o ajudava a cuidar do passarinho doente que caía da árvore. Meu pai está aqui, dentro de mim. Às vezes, eu sinto muito mais a falta de pessoas que estão do lado de fora, aparentemente "vivas"... Que passam pra lá e pra cá, pra lá e pra cá, mas nunca deixam que eu me aproxime.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

manha

É que, poxa vida, sem querer ser uma reclamona, mas esse frio parece que vem só pra ficar jogando na minha cara o quanto eu sou uma pessoa sozinha...

terça-feira, 27 de julho de 2010

viajo porque preciso, volto porque te amo


Brasília é uma cidade bastante chata, em todos os sentidos possíveis. Brasília não tem cachorros de rua!! Brasília tem poucos moradores de rua, também. Mas tem! E eles roubam máquinas fotográficas de turistas desavisados que dão bobeira em rodoviária. Brasília tem muita vigilância... e muita gente de roupa social. Você não pode entrar no Congresso Nacional de chinelos, porque isso é uma indecência. Lá dentro é tudo tão limpo, às claras, honesto, a gente tem mesmo é que reverenciar. Até onde eu pude pesquisar, Brasília não tem comida típica. Deve ser porque é muito novinha, a nossa capital. Brasília é insuportavelmente CERTINHA. Os carros param na faixa para você passar, porque lá o trânsito é coisa de primeiro mundo. Nem parece Brasil, dizem.
Brasília é bem pouco verdadeira, mas eu admiro o pessoal que consegue sobreviver por lá. Porque lá nunca chove, e eu não consigo imaginar as condições de vida em um lugar tão seco... A vegetação do cerrado ilustra bem: morte e vida, lado a lado. Em uma semana, devo ter envelhecido uns três anos. Tá, sou exagerada. Mas eu fiquei doente, o que não é muito habitual... Estou feliz por ter voltado para minha cidade úmida e poluída, com poucas árvores, mas cheia de gente dizendo adeus.

Visitei um assentamento rural e a Vila de São Jorge (onde está localizada a Chapada dos Veadeiros), e nesses lugares eu pude encontrar alguns grandes corações, que valeram todo e qualquer pesar pelo qual eu passei, porventura, durante a viagem. Meu grande carinho e agradecimento às pessoas simples e gigantes que nunca cansam de me surpreender.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

férias pra que te quero

E a Espanha foi Campeã Mundial. É um tanto esquisito, não?
Pena, eu estava torcendo para a Holanda... Essa Copa foi a pior de todas, para mim. Todos os times para os quais eu torcia não iam para frente, tive que estudar nos horários dos jogos mais legais... Meu amigo Werner sintetizou bem a coisa: "você tá parecendo o Mick Jagger".

Na próxima semana, se tudo der certo, vou dar uma chegada lá na cova dos leões: Brasília. Acho que vai ser interessante. Durante o restinho das férias, preciso terminar a benedita auto escola, o que me toma um precioso tempo; tempo que eu poderia usar para viajar! Depois de Brasília, estava planejando dar uma passadinha em Pernambuco... mas acho que não vai rolar. Vamos ficar com Minas, e que eu me dê por satisfeita. Ah! Devo dizer que estou economizando - dinheiro e energia! - para a maior viagem de todas... Em breve mais informações.

Estou mudando um pouco o rumo dos meus estudos, e espero não me arrepender. Saio um pouco da Linguística e me arrisco no campo da Educação na Prisão... Eu sou como as ondas do mar: voooooou, voooooolto. Nem sei o que procuro, sou uma indecisa. Isso é bom, porque torna a minha vida pouco monótona.
Terminei o curso de Contação de Histórias. Agora sou uma *cof cof* profissional. Grandes bostas. Meu avô não tinha diploma algum, e eu não chego nem aos seus pés.

Nessas férias eu vou terminar a Anna Karenina. Vou também fazer um bolo de cenoura que é quase um bolo de cenoura de mulher vivida. E daqui pouco tempo minha amiga Alba volta à Barcelona... "Carola, você precisa conhecer minha casa", ela disse, e o meu coração já foi ficando escuro.

De qualquer forma, ainda bem que a Alba existe, e veio encher de sol a vida da Maria, que só fazia chorar! Obrigada, Alba. O que você fez por nós não tem nem nome.

O que dizer? Devo ser, mesmo, uma moça muito sortuda.

terça-feira, 29 de junho de 2010

mais certezas

Gosto tanto, mas tanto, mas tanto de lugares muito, extremamente e absurdamente altos, onde venta tão forte que até doem os ouvidos. Frequentemente fecho os olhos e me imagino caindo, e isso me traz uma paz que eu não encontro em nenhum outro lugar.
Não gosto de responder às perguntas "você leu o texto de hoje?" ou "você tá bem?".
Gosto de olhar para o céu à noite e sentir que uma daquelas nuvens macabras vai me abraçar para sempre.
Não gosto que arranquem galhos da roseira, das begônias, de nada.
Também não gosto de ter que aprender a dirigir.
Gosto de sentar nos últimos bancos das igrejas, enquanto as pessoas não estão presentes.
Não gosto de pizza, não gosto de Coca-Cola. Gosto de sorvete de pistache.
Não gosto, mesmo, de gente me pressionando com prazos. Não gosto de telefone.
Gosto de perder o sono por volta das 5h às 6h, abrir a janela do quarto e ver o sol. Gosto dessa esperançazinha que toma de conta de mim pela manhã.
Não gosto de despertador. Gosto menos ainda quando é o alarme do celular.
Gosto muito do nome "Zoé". Gosto de aprender a nadar.

Quero morrer em um dia de chuva.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

sobre uma flor e a pequena princesa

"Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava... Não devia jamais ter fugido. Deveria ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar."

SAINT-EXUPÉRY; Antoine de. O Pequeno Príncipe. Tradução de Dom Marcos Barbosa. 28ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1985, p. 33-34

sábado, 12 de junho de 2010

me ensinem a ouvir




Então... quanto falta pro seis chegar ao nove?
Oi?
Tinha nove coisas e tirei seis, quantas ficaram?
Ah, sim... [ele esquematiza com os dedos] Três.
É isso aí. Mas do jeito que eu perguntei primeiro é mais fácil de entender, não?
Não!
Mas, se fossem números maiores, você não conseguiria colocar todos nos dedos. Tipo 13 - 7. É mais fácil ir contando do sete até o treze.
É nada.
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Ei, rapazinho! Você precisa começar a resolver pela casa das unidades.
Por quê? Vai dar a mesma coisa.
Não... às vezes o resultado da direita influencia o da esquerda, porque sobe ou empresta um, lembra?
Ah, mas do meu jeito sempre dá certo.
Mas não pode, Khristian, deixa eu te mostrar...
Não, deixa EU mostrar do meu jeito!

[E aí ele fez, e deu certo.]
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Ana, antes de você ir embora, a gente pode escrever muitas palavras?
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Eu tenho cara de professora?
Aqui, sim. Mas se eu te encontrasse na rua, você não teria cara de professora. A nossa professora tem cara de professora na rua e aqui.
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Um dia, Ana, eu não vou mais te conhecer; quando eu tiver a sua idade. Mas eu vou te conhecer no coração, por causa do seu carinho com a gente...
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Ixi, cê já vai embora amanhã, é?
É...
Cês ficam pouquinho tempo demais, podia ficar mais um mês.
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Tchau, Ana! Eu vou sentir saudade. Quando você voltar pra visitar a gente, você vem de vestido? Eu queria te ver de vestido.
Tá um pouco frio...
Você coloca uma meia calça por baixo!
Tudo bem, Raiane, eu venho de vestido. E com um casaco grande.

sábado, 5 de junho de 2010

ninguém precisa entender

letra aponta a dor
raio que abraça
vida sem rumo

se tá tudo bem, de onde vem a sombra dos teus olhos?

domingo, 23 de maio de 2010

estou crescendo



Sinto que daqui um bem pouquinho eu já vou ter braços grandes à beça, mas eu só vou parar quando eles dois derem conta de abraçar o mundo inteiro.

sábado, 1 de maio de 2010

para saber se gosta muito de alguém

primeiramente, direcione seu pensamento àquele dia mais triste da sua vida;
lembra de cada detalhe, de cada pensamento, de cada folha que caiu;
lembra das pessoas que vinham te dizer que tudo ia clarear;
e, agora, do fundo da alma: se o alguém estivesse lá, de alguma forma, seria menos duro?

domingo, 25 de abril de 2010

a busca

Sei lá. O melhor é não procurar muito. Tragam pacotinhos vazios. A paz deve estar lá dentro.

Carlos Drummond de Andrade

Tombou devagarinho como uma árvore tomba

Hoje um camarada muito boa gente foi dar um salve pro meu pai lá no céu. O Jonas.
Meu carinho pelo Jonas começou quando eu era bem pequena e ele falou ao meu pai que era o Padre o motorista do misterioso carro que atropelou meu cachorro. Minha desavença com o dito cujo padre também começou por aí.
Ninguém nunca botou muita fé no que o Jonas dizia, mas meu pai botou. Sempre. E meu pai gostava de pregar peças nele... Como o fazia com todo mundo. Dizia ao Jonas: "ei, tá vendo aquelas grades lá na casinha do fundo do meu quintal? lá é uma prisão, tá cheio de bandido..." e o Jonas: "é mesmo?? é mesmo? é a sociedade, a sociedade... logo a Dona Morte passa por lá".
Aí um dia o Jonas viu que eu cresci. "Cresceu a menininha, tá grande a menininha... tá bonita, a menininha...", dizia ao meu pai.
E foi assim, o Jonas morando na nossa rua, meu pai trocando ideia com ele. Só meu pai. É uma pena ninguém ter botado fé no Jonas, porque ele foi uma excelente pessoa. Eu sei porque meu pai só era amigo de excelentes pessoas. Pessoas cheias de coração.
O Jonas sofreu com o abandono, eu acho, e com a indiferença. Espero que ele esteja em paz agora. Talvez, quem sabe, conversando com meu pai: "é, alemão, a sociedade... a Dona Morte passou, ela passou e levou a gente, aquela velhinha..."

segunda-feira, 5 de abril de 2010

chuva

– Delícia de garoa!
– Tá doida, mulher?

Se na vida eu nunca fui dada às fortes e turbulentas relações interpessoais, posso afirmar com certeza que com a chuva sempre foi diferente, e o que sinto por ela é difícil de narrar!
Seria impossível mapear ou dizer "foi naquele dia, com o Ramon, brincando na correnteza.... naquele dia!"; nunca tive pretensão de fazê-lo...
Mas acho que na semana retrasada eu consegui verbalizar um pouquinho da graça e magia que vejo nos dias chuvosos. Foi bem naquela hora fatídica, 18h, sexta-feira, a galera louca pra voltar pra casa... E dá-lhe "que merda, essa chuva agora!", "é hoje que eu não chego em casa!". Gente, só uma coisinha: o trânsito não é culpa da chuva. É culpa dos carros. Os carros são invenções humanas, logo, a culpa é do danado do bicho-homem.
Aí pensei assim: o dia de chuva (mais precisamente, o dia que acaba em chuva) é muito caro para mim porque eu preciso de estímulos para continuar, desde sempre, desde a época do meu primeiro livro, do primeiro bolinho de chuva... E quando as gotas caem em mim, e quando eu olho pro céu e elas todas vêm bem rápido e não me dão tempo pra pensar em mais nada, só nelas, eu sinto uma coisinha tão boa dentro de mim, uma vontade de dar risada, chego até a esquecer de como é duro e cheio de sofrimento, esse mundo vasto mundo... Chega a ser uma alegria, sim, alegria, daquelas que a gente só vive... e depois esquece. E a gente não esquece porque é ilusório, quero dizer, a sensação de paz é sempre verdadeira. O que acontece é que a vida dá umas pancadas na gente, e a gente fica um pouco ligeira e tem medo de dizer "tá tudo bem, agora..."
Que linguagem confusa, quantos rodeios para explicar uma questão tão simples... A chuva traz com ela algo de grande, de renovação, de esperança, de "continua, eu tô com você". Eu, otimista que sempre fui, boto muita fé na chuva. E a chuva bota muita fé em mim. Sem querer deixar essa reflexão mais difícil de entender, gostaria de dizer que hoje eu também parei pra pensar nos dois enterros: vô e pai. Choveu tanto no enterro do meu avô, uma tempestade daquelas de cinema, sabe? No dia do velório do meu pai fez sol, choveu só no dia seguinte. E uns dias depois, quando ele foi cremado. Aí me disseram: "quando chove, é porque a pessoa foi pro céu". "Ah", pensei, "esse pessoal fica inventando estória pra amenizar a angústia da gente". Que pessoa amarga que eu fui, por pensar assim.
"Carolina, Carolina... Guarda esse choro pra quando eu morrer."

Carolina, Carolina... Joga no mar as cinzas do seu pai, nas águas com gosto de lágrimas, que Deus vai te mandar água doce todos os dias em que você estiver sozinha e triste, porque da sua dor e da sua paz ninguém mais sabe – só você.

sexta-feira, 19 de março de 2010

para nossa mania pedantesca de classificar

Há um lugar, um pequeno lugar, tão pequeno como uma casinha de vidro na floresta em cima do alfinete, disse a criança. É lá que eu guardei a minha pena da cara de todos.
Esta criança vai deixar de sorrir, disse o Medidor de Crianças.
(...)
Há um lugar, um pequeno lugar tão pequeno como o ovo azul do bicho da seda, disse a criança. É lá que eu guardei o meu amigo.
Esta criança vai deixar de falar, disse o Medidor de Crianças.
(...)
Há um lugar, um pequeno lugar tão pequeno como a pedra de açúcar que a mosca leva para os seus filhinhos partirem e fazerem espelhos, disse a criança. É lá que eu guardei a minha mãe.
Esta criança morreu, disse o Medidor de Crianças.
Há um lugar, um pequeno lugar tão pequeno como a bolha de sumo dentro do gomo da tangerina, disse a criança. É lá que eu me guardei e comi-o e passou para o dentro do dentro do mais pequeno dos buracos do meu coração.
Esta criança acabou, disse o Medidor de Crianças. É preciso fazer outra.

(Maria Velho da Costa, "O lugar comum", Desescrita, 1973)

segunda-feira, 15 de março de 2010

quem busca a paz longe do mar

Hoje fui ao Bom Retiro, me encontrei com o meu amigo Carlos (o Drummond), o senhor Jorge Amado, o querido Victor Hugo - sem traduções, hein! - e fui apresentada ao camarada Vladimir Nabokov. Não sei ao certo se vamos nos dar muito bem.
Também hoje eu recebi um telefonema feliz, coisa rara, que me trouxe uma notícia boa: fui selecionada para um curso de contação de histórias na Biblioteca Hans Christian Andersen, lá no Tatuapé. Bonita biblioteca, sou uma moça muito sortuda!
Sou uma moça muito sortuda e tenho uma amiga espanhola chamada Alba, que veio diretamente da Universidade de Barcelona... para minha casa e para estudar comigo!
Trabalho muito, o dia todo! No fim do mês, não me sobra um troco!
Talvez passe um tempo morando em república... experiência interessante, eu suponho.
Hoje eu disse a um amigo de riso fácil: "vou dar mais espaço às pessoas, criar laços". Ele disse que pode ser uma escolha arriscada, mas eu vou pagar pra ver.

Tenham uma boa vida e plantem uma árvore hoje!

Da amiga de sempre,

Ana Carolina

terça-feira, 2 de março de 2010

keep it up

Há pouco tempo comecei a treinar malabares. Faz muito bem para mim e, dizem, as bolinhas vão me transformar numa pessoa equilibrada, concentrada...
O princípio do Malabarismo se aplica perfeitamente à vida: continue equilibrando. Aconteça o que acontecer, mermão, continue! E se a bolinha cai... Anos de experiência vão fazer com que você aprenda a salvá-la antes dela chegar ao chão. Há que se cultivar muita malandragem e alegria para que seu espetáculo nunca acabe, para que você tenha sempre um truque novo.
Quem conhece a lenda do Malabarista de Notre Dame?
Era uma vez um camarada pobre, pobre pra caramba! Não tinha nada para oferecer à imagem da Virgem Maria, que parecia triste, mesmo com todos os presentes que recebia dos fiéis. O camarada viu entre os presentes alguns artefatos que lhe seriam muito úteis (bolas, botões, argolas), e pôs-se a fazer malabares em frente à estátua. A Virgem sorriu e ofereceu uma rosa ao talentoso artista!

Riu Maria, mãe de Jesus; só não riu Maria, minha mãe. Se eu ficar boa, será que ela se alegra?
O jeito é praticar... E manter as bolinhas no céu.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

especialmente para você

"... Mas quando você perdoa, você ama.
E quando você ama, a luz de Deus brilha em você."

Do filme Na Natureza Selvagem (Into the Wild), 2007, dirigido por Sean Penn.

Apaixone-se aqui.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

falta

Aí hoje eu amanheci com tanta saudade dele, porque faz cinco meses que ele se foi pra sempre, e eu sonhei com ele, no sonho eu sabia que ele ia me deixar e eu o abraçava tão forte, mas tão forte, que não! eu não ia permitir que ele se afastasse de mim, eu era a dona da situação; o pai é meu, a pessoa que eu mais amava no mundo era ele, a menina dele era eu, meu pai-aço era ele; aí eu pensei "caramba, vai, faz lá seus malabares tortos... ninguém mais aguenta te ouvir falar sobre ele, sobre a sua tristeza"; aí, puxa, o dia até que passou bem, bastante bem, consegui cumprir meus horários e me cadastrei na maior biblioteca de São Paulo, li uns livros infantis sobre o abandono, para sentir que minha dor era solidária a outras dores; aí foi, foi...
aí eu sinto, agora, um buraco tão grande aqui dentro de mim, que eu acho que nada, nunca, vai ser imenso o bastante pra tapar. Aí eu corro, corro, corro, não posso chorar perto da mãe, eu corro, corro, chego ao lugar mais distante e peço pra alguém me ouvir, em algum lugar, alguém me ensinar como que eu faço pra suportar, pra não deixar de querer continuar, porque, Deus do céu... ele me avisou um dia, ele disse "Carol, vai sentir falta do seu pai velho quando ele for embora?", eu disse "vou sentir falta da sua comida!", mas era mentira, era mentira das grandes... a falta é tão aguda, doída, seca, não dá nem pra traduzir usando palavras.

Alguém pode escrever: "em setembro de 2009, tiraram um pedaço dela. O pedaço que sabia tudo sobre as plantas, e que a ensinou. O pedaço que sabia as continhas complicadas, e a ensinou. O pedaço que sabia tudo de artesanato, e a ensinou. O pedaço que a levou para ver o mar, que fez com que ela gostasse de tudo aquilo que ele gostava, não por imposição; apenas porque o tal pedaço sabia que ela era o seu pedacinho mais amado, aquele de quem ele nunca iria se separar, mesmo estando muito, muito longe..."

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

eu, por mim

Gostaria de dizer que o momento mais feliz da minha vida-pós-26-de-setembro foi quando eu estava láaaa no topo da Pedra do Baú, sentindo todo aquele vento. Ali, nada me alcançava. O minuto mais egoísta, e também o mais leve. Por um instante, eu queria mesmo ficar por lá, pra sempre. Só eu, a lembrança e a pedra.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

desapego

"Eu garanto a vocês: se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas, se morre, produz muito fruto."

(João, 12:24)

domingo, 3 de janeiro de 2010

2010

Já dizia o sábio Haroldo: "se as coisas boas durassem para sempre, saberíamos dar o valor que elas têm?"

Deixando de lado tudo o que eu perdi, quero que saibam que a vida tem me ensinado alguma coisa, e acho que eu não sou mais aquela menininha tristonha que só via no mundo razões para se lamentar.
Desejo um ano bonito a todos e, acima de tudo, muita força e serenidade para que a gente sempre possa se ajudar... Sempre dar e receber amor.

Hoje pousou um passarinho no pé de acerola do meu pai; ele parou, descansou e cantou bem baixinho: "a vida continua".